segunda-feira, 13 de julho de 2009
sábado, 4 de julho de 2009
Na carona do Arnaldo...

Impossível falar do Arnaldo e não falar dos Mutantes.
Neste post, estou mostrando algumas gravações onde eles aparecem acompanhando outros artistas e também incluí músicas solo do Sérgio Baptista e da Rita Lee, além de arranjos do Rogério Duprat, como na gravação da faixa do Gil, por exemplo.
Vamos ouvir:
Rita Lee - José (Joseph)
Rogério Duprat & Mutantes - Canção para Inglês Ver / Chiquita Bacana
(Lamartine Babo) / (Alberto Ribeiro/João de Barro-Braguinha)
[Álbum: A Banda Tropicalista do Duprat - 1968]
Caetano Veloso & Mutantes - É Proibido Proibir
(Caetano Veloso)
[Álbum: Compacto - 1968]
Gilberto Gil & Mutantes - Pega A Voga, Cabeludo
(Gilberto Gil / Juan Arcon)
[Álbum: Gilberto Gil - 1968]
Sérgio Dias - Corações De Carnaval
(Nelson Motta / Sérgio Dias Baptista)
[Álbum: Sérgio Dias - 1980]
Mutantes - I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado)
(Rita Lee / Arnaldo Baptista / Sergio Dias)
[Álbum: Tecnicolor - 1970/1999]
Rogério Duprat & Mutantes - Cinderella Rockefella
(M. Williams)
[Álbum: A Banda Tropicalista do Duprat - 1968]
Rita Lee - De Novo Aqui Meu Bom José
(Arnaldo Baptista / Liminha / Rita lee / Sérgio Dias)
[Álbum: Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida - 1972]
sábado, 27 de junho de 2009
Arnaldo Baptista

sexta-feira, 22 de maio de 2009
Zé Rodrix

quinta-feira, 30 de abril de 2009
Paulo César Pinheiro
domingo, 15 de março de 2009
Domingo no parque
Um domingo (violento) no parque
Marina Vaz*
Violência em meio à ingenuidade. É assim que se pode definir a canção “Domingo no Parque” de Gilberto Gil, segunda classificada no Festival de 1967. A letra, que narra a história de um triângulo amoroso, consegue a façanha de ilustrar cenas que nos remetem a um universo puro e singelo, retratando, ao mesmo tempo, a frieza de um crime passional. A primeira estrofe se inicia de forma simples, com a apresentação de dois dos personagens centrais da história, ambos pertencentes a camadas populares da sociedade. José, que “trabalhava na feira”, era o “rei da brincadeira”. João trabalhava “na construção” e era “o rei da confusão”.
Entretanto, essa lógica se altera quando chega o dia em que João “resolveu não brigar” e “foi namorar” no parque com Juliana. A personagem-pivô do crime, durante toda a música/ história, é cercada de elementos que conferem a ela e a seu relacionamento com João um ar ingênuo. Juliana carrega uma rosa, símbolo do amor romântico, mas ela também segura um sorvete, conferindo-lhe um ar infantil.
É curioso perceber que o compositor ilustra a rosa e o sorvete como estando “na mão” de Juliana. Eles não estão nas mãos ou, ainda, um em cada mão. Mais do que um recurso de rima, isso reforça a imagem de inocência atribuída a Juliana. São dois elementos, a rosa (amor) e o sorvete (prazer infantil) convivendo em uma única mão (a mão de Juliana, que representa essa junção).
A ira de José ao ver Juliana com João se deve não a uma traição propriamente dita mas, sim, à inveja e ao desejo não-concretizado por Juliana (“Juliana, meu sonho, uma ilusão”). E é levado por esse sentimento que José, “o rei da brincadeira”, perde a razão. O verso “O espinho da rosa feriu o Zé” mostra o impulso destrutivo do amor (o espinho, em oposição à pétala, à suavidade). Deixando de lado toda a possível nobreza de seu sentimento, José se vê dominado por absoluta frieza (“E o sorvete gelou seu coração”).
O sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, dançando no peito - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
O sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, girando na mente - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
Na primeira delas, a imagem da cena que José presenciou (representada pelo sorvete e pela rosa) está “dançando” em seu peito. Na segunda, ela está “girando” em sua mente. A diferença entre elas é clara pela oposição entre “peito” (emoção) e “mente” (razão). É como se, num primeiro momento, José estivesse dominado pela emoção, na medida em que ainda não havia assimilado bem seus sentimentos. Num segundo momento, ele se utiliza da razão para planejar suas ações futuras.
Mas a oposição entre as estrofes não pára por aí. Os verbos “dançando” e “girando” também são usados de maneira oposta. O primeiro, neste contexto, passa a idéia de um sentimento confuso, sem uma ordem previamente definida. Já o segundo nos remete a uma engrenagem (de novo, a racionalidade) em movimento. É como se ele estivesse neste momento, literalmente, “maquinando” seu plano. O resultado disso? O sangue (a violência) se derrama sobre os elementos de ingenuidade: o sorvete agora é de morango, e a rosa também fica vermelha. “Olha a faca!”
* Marina Vaz é jornalista e apaixonada por MPB.
Ouça:
“Domingo no parque”
(Gilberto Gil)
O rei da brincadeira - ê, José
O rei da confusão - ê, João
Um trabalhava na feira - ê, José
Outro na construção - ê, João
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, dançando no peito - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
O sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, girando na mente - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
Juliana girando - oi, girando
Oi, na roda gigante - oi, girando
Oi, na roda gigante - oi, girando
O amigo João - João
O sorvete é morango - é vermelho
Oi, girando, e a rosa - é vermelha
Oi, girando, girando - é vermelha
Oi, girando, girando - olha a faca!
Olha o sangue na mão - ê, José
Juliana no chão - ê, José
Outro corpo caído - ê, José
Seu amigo, João - ê, José
Amanhã não tem feira - ê, José
Não tem mais construção - ê, João
Não tem mais brincadeira - ê, José
Não tem mais confusão - ê, João
quinta-feira, 12 de março de 2009
Bandeira
De Manuel Bandeira a Zeca Baleiro
Marina Vaz*
Ouvir a música “Bandeira”, do maranhense Zeca Baleiro, é sempre instigante. Em um primeiro momento, ela pode ser interpretada como uma bela canção que fala dos anseios e desejos humanos, como espécies de “bandeiras” levantadas pelo eu-lírico (a voz que fala na canção). Mas a citação, ao final da música, do verso “Vida noves fora zero”, de Manuel Bandeira, abre caminho para a compreensão das relações intertextuais existentes entre as duas obras. E o que poderia parecer, à primeira vista, escondido na música do compositor torna-se escancarado no próprio título da canção, que homenageia o poeta pernambucano.
“Belo belo”, de Manuel Bandeira
Os versos citados por Baleiro são do poema “Belo belo”, em que Bandeira expõe a frustração com a vida em trechos como: “Tenho tudo que não quero/ Não tenho nada que quero”. Fecha-se um círculo de infelicidade: o eu-lírico não somente tem tudo aquilo que não quer, como também não consegue absolutamente nada do que deseja. E o que, afinal, ele não quer? “Não quero óculos nem tosse/ Nem obrigação de voto”. Reúnem-se aí dois elementos importantes para a compreensão das causas de seu descontentamento: as limitações físicas (“óculos” e “tosse”) e as limitações sociais (representada pela “obrigação de voto”). E as imagens utilizadas para ilustrar suas possíveis fontes de prazer referem-se, invariavelmente, a lugares ou situações inatingíveis: o topo das montanhas (os “píncaros”); a “fonte escondida”; a “escarpa inacessível”; “a luz da primeira estrela”.
O desejo de experimentação também é demonstrado pelo prazer voluptuoso ao ansiar, com mesma intensidade, o “moreno de Estela”, a “brancura de Elisa”, a “saliva de Bela” e as “sardas de Adalgisa”. Mas, por reconhecer que seus desejos estão distantes demais daquilo que, de fato, ele possui, ele trata de voltar à realidade: “Mas basta de lero-lero/ Vida noves-fora zero”. No fim, o que lhe sobra é o resultado de uma conta cruel: no balanço “matemático” de sua existência, o resultado é zero.
Observando a forma como o poema se estrutura, pode-se ver que grande parte dos versos faz referência ao que o eu-lírico quer. Ou seja, considerando a lógica dos primeiros versos (“Não tenho nada que quero”), os versos fazem referência ao que ele gostaria de ter mas não tem. Fica claro que seus desejos e suas necessidades são muito maiores do que aquilo de que ele dispõe na vida. Dessa forma, “Quero quero muita coisa” transmuta-se a um “não tenho muita coisa”.
“Bandeira”, de Zeca Baleiro
Diferentemente do que acontece no poema “Belo belo”, de Manuel Bandeira, a canção “Bandeira”, de Zeca Baleiro, é tomada, em sua maior parte, por versos panfletários daquilo que o eu-lírico não quer: “Eu não quero ver você cuspindo ódio / Eu não quero ver você fumando ópio”. Assim, o que é rejeitado são as escolhas feitas pelos próprios indivíduos da sociedade justamente para “sarar a dor”.
A dor, neste caso, não se refere mais a problemas de saúde (à “tosse”). A sociedade moderna, que, com os avanços científicos, descobriu a cura de várias doenças, criou, em contrapartida, indivíduos que “cospem ódio” e “choram veneno”. Indivíduos mesquinhos que oferecem “café pequeno” (ou que são, eles mesmos, “cafés pequenos”, expressão pejorativa utilizada para designar os que não têm importância). Diante dessa desilusão, o eu-lírico passa a rejeitar tudo o que provém dessa sociedade, indiscriminadamente: “Eu não quero isso seja lá o que isso for”.
Com os versos “Não quero medir a altura do tombo / Nem passar agosto esperando setembro”, a canção demonstra o desejo de querer-se livrar da prudência excessiva e do hábito de não aproveitar o presente esperando-se o futuro. Por isso, o melhor futuro parecer ser mesmo o que está “hoje escuro”, quando ainda se encontra no plano da idealização.
Depois de o eu-lírico da música falar tudo o que ele não quer (o que, de acordo com a lógica de Manuel Bandeira, é tudo aquilo que, na verdade, ele tem), ele parte então para o que deseja: “Quero a Guanabara quero o rio Nilo / Quero tudo ter estrela flor estilo / Tua língua em meu mamilo água e sal”. Nestes versos, a canção se aproxima ainda mais do poema de Bandeira, com referência claras à “luz da primeira estrela” e à “rosa que floresceu”. Além disso, “a língua no mamilo” poderia muito bem ter deixado resquícios da “saliva de Adalgisa”, citada por Bandeira.
Enquanto, no poema, o eu-lírico diz muito sobre o que ele quer (ou seja, sobre o que ele não tem), na canção de Baleiro, o foco é o que ele não quer (ou seja, o que ele tem). Isso porque a música, mais atual, retrata o pensamento de alguém já inserido numa sociedade moderna de consumo. Ele tem, mas não está satisfeito com aquilo que possui. Volta-se, então, para os elementos mais simples: a estrela, a flor e as paisagens naturais (ora Pernambuco, Bagdá e Cusco, ora a Guanabara e os rios Nilo e Tejo). Entretanto, o balanço da vida nos dois casos é o mesmo: “Vida noves-fora zero”.
* Marina Vaz é jornalista e apaixonada por MPB.
Leia o poema "Belo belo", de Manuel Bandeira, e ouça "Bandeira", de Zeca Baleiro.
Ouça:
Belo belo
(Manuel Bandeira)
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero
Bandeira
(Zeca Baleiro)
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio
Pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele eu não quero aquilo
peixe na boca do crocodilo
braço da Vênus de Milo acenando ciao
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos
Quero a Guanabara quero o rio Nilo
Quero tudo ter estrela flor estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida noves fora zero
Quero viver quero ouvir quero ver
(Se é assim quero sim acho que vim pra te ver